Página:Exaltação (1916).pdf/139

Wikisource, a biblioteca livre
— 131 —

como corceis á brida solta... Mais tarde, ao cerrar as persianas, seus labios recitavam a meia-voz:

“De teus raros extremos de belleza,
“Os mesmos elementos se namoram.”

Armando Sueiro ao deixar a casa da Senhora de Assis, levava a alma em fogo... Ela inundava-lhe o ser, abrangia-lhe o pensamento, exaltava-lhe a imaginação: “E´ uma mulher que nunca satisfaz; é uma Pompeia palpitante, onde se tem sempre alguma surpresa que descobrir; —é rosa de Ispahan, cujas petalas sempre frescas, sempre humidas, sempre rosadas, magnificas, seductoras, gloriosas, desafiam o tempo, as outras bellezas, as outras mocidades, que virão... E´ a namorada immortal a inquietar o poeta, o artista, o pensador que se quer apossar, explorar, calcar, machucar esse ser de purpuras e de viclencias esplendidas... Tel-a aqui bem perto de mim e não poder agarral-a, arrebatal-a triumphante por caminhos beirados de laranjeiras: glaucas, com as suas flôres a se apertarem, a se curvarem, a se despregarem, rolando, caindo, sumindo-se uma a uma pelos seus cabelos, pelas suas mãos crispadas, pelos seus joclhos finos... O cheiro da flôr de laranja tonteia; as palavras que ella esenta teem a delicadeza, o transporte, o livor da flôr de laranja... Ella mesma é uma flôr de laranja que suspira, que ama, que anceia,.. Oh! tu que trazes em tuas pupillas a acidez corrosiva da desejo e em tua boca escarlate, os contornos, o signal, o ardor, a sensualidade morbida e rubra do beijo, vem