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Todo esse movimento silencioso e invisivel de cousas que nasciam e que morriam lhe agiam em os nervos, em as celulas... sentia forças e potencias creadoras... E Ladice, encharcada de lyrismos pensava: “E´ em este instante, de horas escondidas, que a natureza se entrega ao amor... Passáros que passais pressurosos, com certeza ides em busca de caricias mais quentes?... folhagens resequidas que vos moveis, sois o ninho macio de serpentes que se ajuntam?... Insectos, que vos encontraes sobre umbellas cheirosas, não sabeis que vosso amor freme sobre outro amor?... Escaravelhos luzentes estreitam-se em cavidades carunchosas de lenhos decepados; borboletas lascivas beijam-se rolando sobre o oiro de antheras violadas; rios, correntes insoffridas precipitam-se em mares cantantes; brisas encanadas incitam palmeiras isoladas, sem companheiros; corações se entrelaçam em a vertigem, sob a alvura das rendas, dos véos, dos linhos bordados. Estrellas que me vêdes dizei-me, porque não tendes affectos? Lua, que és pallida como a paixão, é verdade que nunca recebeste estes beijos que se quebram em nossos labios, bramantes, terriveis, bravios, como as aguas em os recifes? Montanhas que vos ergueis lá no longe, em a esterilidade de vossos flancos, não echoam os murmurios amorosos que sobem, sobem do Universo adormecido?....Sois o esquecimento, uma cousa que passou e não volta mais, sois a legenda morta, o intruso em a fecundidade do mundo que se desdobra...”

“Ladice sentia-se desfallecer. Sua alma fugia-lhe