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Grupos numerosos paravam em frente das barracas, commentavam-lhe a feição, os dizeres, apreciavam a belleza, a alacridade, a silhueta esbelta das moças que vendiam, entravam e saiam contentes, do que haviam tomado, do que haviam comprado; a animação era grande e parecia augmentar constantemente; todos se mostravam liberaes, alguns até prodigos, sobretudo os rapazes ricos que, aproveitando o momento propicio, ostentavam a sua fortuna, e ganhavam a admiração das gentis caixeiras. A generosidade de uns estimulava a de outros, estabelecendo-se assim uma especie de conflicto occulto, feito sob sorrisos, sob olhares cheios de espectativas, sob palavras de agradecimento...

“Enchei vosso coração de flôres, depois exultai !” diziam os homens dirigindo-se avidos para comprarem uma flôr, para contemplarem de perto esse perfil luminoso que emergia de entre as flôres como rosa de Junho prenhe de sons, de sôpros, de lamentações...

A tenda branca de seda da China, tinha a apparencia vaporosa, leve, diaphana, indefinida, do sonho, da irrealidade, das apparições... Pela entrada larga, apenas cortada por um balcão, saia um aroma forte, esquisito, estonteante, variavel de flôres misturadas. Ora prevalecia um, ora outro, ora confundindo-se, formava uma essencia nova, para logo se desmanchar e surgir uma outra differente... eram perfumes que se succediam infinitamente como os dias, como os mezes, como as estações..

Flôres em profusão cobriam as paredes, as mesas,