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pendiam dos tectos, rolavam pelo chão, sob os pés aristocraticos de Ladice, sob as rendas de seu vestido...

Gladiolos amaranthos, coraleiros tremiam quaes labaredas agitadas pelo vento, indifferentes ao espasmo sensual das tuberosas em pleno agraço da juventude. Zinias, anemonas, geranimos ardiam cá e lá, semelhantes a bolas accesas, de uma luz igual, fixa, inalteravel, queimando-se ao abrigo de aragens; os flocos, as primavéras, as verbenas caiam sobre os amores-perfeitos, as violetas, os cravos suffocados... a digitalis e a petunia, lividas, balonçavam-se... as tulipas palpitavam de orgulho... as papoulas abriam-se como redes de rubis para o divertimento de libellulas; as fuchsias curvavam-se enamoradas de seus botões que se uniam como labios; os codeços estirados lembravam cabellos loiros desfeitos; os cachos deitados das glycinas, pareciam amethystas entornadas; as serpentarias erguiam-se erectas, serenas, como se fossem thronos de zephiros; as rosas alçavam-se apaixonadas e dignas como sendo a flôr da espiritualidade; as hortensias entesadas traziam as suas folhas amassadas no azul e no rosa das tardes de verão; os daturas volviam seus calices para baixo, dando por finda a libação; a acacia mimosa, branca de innoceneia e de pudicicia, olhava em extase; os crysanthemos gloriavam-se de suas formas irregulares, hystericas, geradas em a phantasia da terra; dir-se-ia que as yuccas guardavam Cupidos em suas corollas e mestravam-se ciosos de servir de sceptro a Flora; as cattleas, as cœlias, as vandas, trocavam-se reverencias em seu isolamento; todas essas flôres em a súa agonia tornavam-se mais