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Pela sua imaginação encandecida passava a synthese dramatica de todos os amôres:

"Amar — pensava ella — é sentir entrar em a
“fragilidade de um coração a desordem, os fremitos, o
“movimento, as irradiações do universo immenso...

“Marinheiros, que vos debruçais, em noite calida,
“sobre prôas fluctuantes, porque deixais escorrer sobre
“vosso rosto coberto de gilvazes, uma lagrima: san-
"gue de vossa dôr, traço feminil?

“Mulheres que abandonais lar, paes, irmãos e que
“perdeis a innocencia, a virtude como pesos super-
“fluos, porque seguieis este estrangeiro, entregai-vos
“a elle, submettei-vos a seu jugo; atirai-vos a seus pés
“qual serpente humilde e obediente!

“Homens, que ainda hontem sorrieis como um
“bem aventurado e que havieis o mundo como vosso,
“porque passais hoje curvado, acabrunhado, desvaira-
“do, as mãos tintas em sangue de um rival...

“Bocas torcidas, olhares estrabicos e colluntes,
“pallores intensos, corpos a se abaterem palpitantes,
“indisposições infindas d´alma, frenesi ardente de
“tomar uma cabeça, beijal-a e depois morrer... De-
“sejo louco de enlear mãos com mãos, labios com la-
“bios, e depois morrer...

“Amor — potencia, força, genio do bem e do mal
“—quebras a harmonia dos seres e dilatas-te sobre o
“mundo com a implacabilidade de um Deus...

“Amor triumphante, amôr victorioso sobes de
todas as cellulas, de todas as gargantas qual flamma
“eterna para fecundar a volupia da vida...