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“Amôr — paraiso de goso, de rythmos, de exalta-
“ções, onde dous seres, trocam o beijo immortal, en-
“tram um em o outro como as côres, as estações, a
“gota que succede a gota!”

Vibravam em os nervos da Senhora de Ássis os estos ndmiraveis de Sappho.

Ladice retirou-se para o interior da tenda, afim de procurar alguma flôr para lhe vender. Remexia de balde os cestos, as caixas vazias, os cantos, os papeis de seda; nada mais, porém, restava.

—E´-me impossivel servil-o — disse-lhe ella.

— Ao menos nm botão — implorou elle, notando-lhe a figura esbelta.

— Se tivesse vindo meia hora antes, dar-lhe-ia flôres lindas...

— Queira ceder-me, por favor, as rosas que traz em a cintura... Os pobres a bemdirão — ajuntou o Poeta sorrindo, inclinando-se sobre o balcão.

— Estão murchas; quasi não vale a pena — proferiu Ladice, hesitante.

— Viverão ainda... Serão, afinal, um memento d´esta festa — acudiu elle de prompto.

João ficou um tanto contrariado com o gesto do Poeta. Elle tinha certeza de que a paixão de Ladice ainda perdurava; temia, portanto, a intimidade, a approximação, a familiaridade entre ambos. A acção em si nada havia de censuravel. O Snr, Dalmada, habituado em Europa, não estranhava esses galantetos que o homem e a mulher se atiram mutuamente; mas, n´este caso, havia qualquer cousa no fundo, na sombra...