Página:Exaltação (1916).pdf/164

Wikisource, a biblioteca livre
— 156 —

pulso á rêde que prineipiava a agitar-se, convulsa como se fôra o crescente de uma d´aquellas bandeiras barbaras do Oriente. Pela janella escancarada, ella via um pedaço de cêo sem mancha, de um azul poroso, molle, frouxo, e Ladice tinha a impressão de que esse cêo estava all bem perto, quasi ao seu alcance, e que se quizesse, ser-lhe-ia facil penetrar-lhe em a consistencia anilada, apalpal-a, agarral-a em as mãos vivas e harmoniosas, envolver seu corpo em as suas dobras maravilhosas de silencio e de sonho. A intensidade da luz a não deixava fixal-o; e em mente, ella comparava seu amôr a essa luz vibrante que a deslumbruva; a vista se lhe perturbava: pontos luminosos subiam e desciam, linhas tortas, curvas e rectas cruzavam, fugiam, tornavam a apparecer, de formas bizarras, semelhantes a filamentos osseos, atravês das lentes de um microscopio... Ao longe, a fronde brunida de uma pslmeira esguia, desfraldava ao vento de entre espathas apertadas e concavas, crinas hirsutas, pennachos brancos, insignias de paz...

A senhora de Assis tinha por habito receber em seu “boudoir” as pessoas que a procuravam durante o dia. Ao ourir o tilintar da campanhia, dirigiu-se precipitademente para o espelho afim de arranjar os cabellos que lhe caiam, de todos os lados, em cachos, em ondas, maliciosos, enchendo-lhe o rosto de sopros quentes, de manchas estranhas... Em seguida, endireitou-se toda, afastou-se um pouco, olhou-se novamente, sorriu ao notar que estava corada e que os olhos brilhavam muito... Cerrou as persianas, e... Theophilo entrou...