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suas palavras e suas mãos pareciam, mais alvas, mais magras, mais frias...

— E´ necessario um temperamento muito artistico para experimentar de proposito uma emoção...

— Mas, arrependi-me, porque soffri muito... Chorando em pranto e agarrada ao braço de meu marido, deixei pressurosa aquelle logar que tanto mal me fazia...

— Quando eu tinha vinte annos, era assim susceptivel a esses accessos morbidos, a esse sentir claro e profundo, a essa percepção doentia e perfeita do mundo externo. A natureza agia em mim como se fôra a sua palpitação, o seu fremito nervoso... Ella me subjugava por completo. A primeira vez que fui ao Oriente, quasi adoeci... Adorei a Italia como adoramos a uma amante: beijava-lhe o raio do sol, as pedras, o vinhedo agarrado ás collínas com a tenacidade. a pertinacia do amor de seus filhos... Mas, com os annos isso tudo desapparece, essa vida, esse ardor, apagam-se, e dão lugar a uma calmaria monotona enervante... Meu Deus, já não sou o mesmo que era! — A colera, a angustia lhe passaram pelo olhar.

— O senhor ainda é tão moço; é antes questão de temperamento que de idade.

— Sim, mas a juventude é o momento propicio, é a estação em que as nossas phantasias desabrocham... Tenho trinta e oito annos, d´aqui a quatro, que serei eu? Nada; justamente a metade do que fui... — Os olhos do Poeta velavam-se de tristezas.

— Exaggera. O homem aos quarenta annos, at-

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