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tinge á sua força intellectual, ao poder da dominação; adquire o esplendor das grandes arvores, do carvalho, do cedro, por exemplo, — accrescentou a Senhora de Assis em um tom meigo, consolador, envolvendo-o em as caricias de seu olhar.

Theophilo achou graça na comparação, riu-se e respondeu:

— Sempre musa lyrica. E depois de observal-a por algum tempo, continuou — Sempre que a vejo, lembro-me do Oriente. Parece-me antes uma egypcia que uma brasileira. Em Alexandria conheci uma mulher, que era o seu retrato. Ao pronunciar essa phrase, assumiu um ar distrahido.

Era a primeira vez que elle se referia assim a ella, á sua pessoa.

— O Oriente? Sinto-o em os gestos, em os sentimentos, em os sonhos. Quem sabe se não é devido a isso que tenho qualquer cousa de oriental...

— Será uma affinidade espiritual e physica... Na realidade seus traços o são: as sobrancelhas largas, o nariz direito, os olhos fechados. — E em mente comparava a sua fronte á d´aquella rainha dos Amoritas: “Um espaço de crystal com candelabros de ouro.” E reparava que sua boca tinha a flamma, o calor do Oriente; a perfeição, a arte da Grecia; era uma boca muito capaz de aprisionar o coração de todos os homens... — O Oriente seria forte de mais para seus nervos... — accrescentou elle.

— Com certeza não supportaria a sua vertigem esfusiante; a sua atmosphera de delirio e de molleza.