— O engenho humano ha penetrado em tudo: destroe e crea diariamente theorias, substancias, minérios, e até a vida. Principiam mesmo de negar a existencia dos corpos simples. Mas quando se atira a estudar a mulher, esbarra tonto, indeciso, ante tanta variedade, tanta contradicção... Nunca se sabe ao certo o que ella é, e o que deseja — ajuntou elle cheio de ironia.
— Nós mesmas, Senhor Armando, não o sabemos. Nossos actos muitas vezes, obedecem a um mero impulso momentaneo: trazemos em o seio os germens de todos os sentimentos, volições e energias...
— A mulher é a paciente infeliz de paixões mobiles, respondeu elle.
— No censure esse ser fragil, estranho, perigoso sobre cujos nervos, passam em tropel, as pulsações universaes.—E sua voz fremia.
— A mulher é apenas a vontade do homem e nada mais — verberou Jorge, chegando-se.
— Oh! a bella definicão de um demolidor, exelamou a Senhora de Assis. — Declara-nos, então, irresponsareis?
— Peremptoriamente — affirmou elle.
— Já meditou sobre os direitos que nos concede?
— Não os podeis ter...
— Dá-nos, pois, uma liberdade incondicional, ampla... Oh! a bella definição! Repetia Ladice, rindo-se, estrepitosa...
— Olha Jorge, sejamos francos bastantes vezes, somos nós a vontade d´ellas — accrescentou Armando.