Página:Exaltação (1916).pdf/189

Wikisource, a biblioteca livre
— 181 —

que iria hoje á Praia admirar o mar. Duvida e esperança, sim e não, pallôr subito, doce mal estar obumbravam-lhe a todo o momento a fronte e o coração...

Elles chegaram um pouco tarde. A concurrencia era assaz numerosa. Não havia, porém, a animação caracteristica de días festivos; carecia uma exhibição, um motivo qualquer para estimular, trazer a lume, do fundo d´essas sensibilidades ananthas, a alegria, o ruido esfusiante, contagioso, o fragor de vida, que fulmina as multidões de um só golpe e as faz estremecer unisonas...

Essas pessoas caminhavam sempre sem parar, como que perfazendo um dever, uma obrigação; umas atrás das outrus, enfileiradas, cabisbaixas, inexpressivas, de uma docilidade automata e enervante que até fazia lembrar “le troupeau” de Nietzsche. Ladice no meio d´esse povo que antes parecia um rebanho tranquillo e pacifico, via a sua superioridade augmentar, duplicar, elevar-se. Tinha consciencia de trazer em o ser, faculdades divinas, fragmentos de transcendencia, culminancias, valores extraordinarios...

O Bar estava inteiramente tomado, elles caminhavam a esmo, á cata de um lugar vazio, quando alguem se levantando bruscamente, interceptou-lhes o minho.

— Venham para minha mesa — disse Theophilo. conduzindo-os para o ado do mar.

As pulsações de Ladice affrouxavam, corriam-lhe a vida e a morte simultaneamente em as veias.