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Theophilo lhes apresentou o seu companheiro Dr. Isaac de Xavier, secretario de legação.

A exiguidade do espaço os collocara em uma proximidade perigosa e tolhia a cada um qualquer movimento exaggerado.

Ladice sentia um prazer infrene em provocar, em levar aos límites as sensações que lhe suscitara essa presença maravilhosa: sobre a madeira de laque branco, de proposito, seu braço nú, sem luvas, se estendia qual raio de luz, qual hyphen symbolico, ao lado da mão grande e fina de Theophilo. Esses dous orgãos indifferentes, promptos a obedecer ao aceno de uma intelligencia superior, não tinham para os passantes outra significação a não ser a sua propria; mas para a Sra. de Assis e Theophilo elles eram seres animados, os seus corações, as suas consciencias, o seu amor, as suas declarações afervoradas, as suas almas a enfrentarem uma á outra, as suas bocas a se dizerem: eu te amo!...

Avassalada por uma força, por uma ideia unica demente, que a arrastava, a empurrava, a obrigava a fazer, apesar da reluctancia, da opposição, da obstinação de sua vontade, de seus principios, Ladice avançava de manso, chegava mais e mais o seu braço até tocar-lhe de leve em a mão, recuava de novo, parava á curta distancia e assim permaneciam quasi unidos, quasi apertados, sentindo ambos irradiar-se-lhe o calor de suas pelles!

Theophilo falava com vivacidade e eloquencia, assiduamente, como quem trata de desviar a attenção alheia, de destruir um pensamento importuno. Ladice,