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calada, ao parecer de quem escuta, rendia-se inteira, á influencia, á suggestão absoluta de sua pessoa; ella o amava com a mesma grandeza e liberdade como se estivessem a sós... O lugar, a gente que entrava e saia, seu marido, não tinham o poder de reter, de suspender, de fazer calar, os assomos de paixão, de prodigalidades estravagantes, de caricias, de beijos, sem rythmo, longos, silenciosos, como a morte sobre outra morte, que se infundiam em as suas cellulas, com o impeto, a bravura, a galhardia do canto das graunas ao saudar o romper d´alva, a dissipação das brumas...

Com o sabor lyrico de um amor triumphante, a alma de Ladice parava immobil, extactica, ante o deslumbramento que a rodeava. A lua, sem o pallor do receio e da fadiga, se apresentava com a limpidez, o esplendor, a magnificencia da nudez! Fixando-a, Ladice, em seu intimo, lhe dirigia esses appellos:

“Luz das trevas, poder infinito, doçura do espaço, rosa candente, introduze em as minhas fibras o encantamento de teus amores secretos, a languidez delirante de teus movimentos...

“Coração do ether, do desconhecido, do universo, que trazes em as tuas paredes como as charamellas e as tubas, os votos, os sopros, os protestos de amor dos seculos, que já se foram, dá a immortalidade ao meu sentir...

“Brasa accesa pelo fogo eterno, desejo inflammado, que corres atrás dos dias, empresta ao meu olhar o fulgor de tuas scentelhas divinas...