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“Medalha de ouro, presa em o seio da immensidade, alegria dos horizontes, das sombras, das nuvens, graça dos astros, nympha do azul, curva-te, para que eu te beije...

“Virgem romantica, virgem inspiradora, amorosa dos mares cantantes, que leva o som rubro, o estylete da nostalgia, do suicidio, o estertor aos corações, aos espiritos que se desejam, augmenta a minha belleza, por amor do meu amor!...

“Esphinge, que attrahes a sabedoria, a experiencia, a observação, o labor da immaterialidade humana, protege-me; verte sobre meus cabellos, sobre a minha fronte o teu philtro mysterioso...

“Mãe admiruvel, que abraças a terra, o céo, as cousas vivas, mortas e inertes, transmitte-me a vastidão, o dominio, a universalidade de teu amor...

“Reverbero do sol, esphera ardente, esteril, ignea, que rolas desesperada, qual amante infeliz, faze que eu desconheça esse verme, esse fogo que consome...

“Deusa surprehendida em o banho por Acteon, Diana, que passava as noites em a cabana de Endymion, Hecate, que presidia aos sortilegios, á magia, ás praticas supersticiosas, recebe em sacrificio, em recompensa o meu coração e toda extensão de seu amor, a sua beatitude e a sua maldade, a hecatombe de annos infructiferos e de sensações virgens, a sua divergencia, o seu capricho, a sua exaltação, a sua fé, a sua lagrima, a sua esperança, a sua imperfeição...”

Com um suspiro longo, profundo, Ladice voltou o rosto e deu com os olhos curiosos de Theophilo, cravados em a sua physionomia. Ella sorriu, elle tam-