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O jantar correu alegre, apesar de Ladice pouco falar.

Finda a refeição, ella retirou-se para o “boudoir”. A Senhora de Assis não experimentava mais aquella alegria nervosa, fina, elastica, leve, cortante, que temos quando sabemos que somos amados; essa alegria a abandonara.

Toda de branco, divinamente pallida, incomparavel flôr da espiritualidade humana, ella pensava: O meu amor é tão absoluto, tão illimitado, tão absorvente e profundo que me faz desconhecer o remorso e engendrar a mentira com altivez... A consciencia foge de mim qual inimigo vencido, covarde... Comprehendo agora porque esses criminosos passionaes matam e morrem victoriosos, a sorrir... E´ a rebellião do sentimento, essa furia insana, imperiosa, accesa que brada, que assalta, que sitia o organismo inteiro...

— Poetica e só... toda envolta em sombras — exclamou Armando, entrando e reparando na mancha de luar que lhe caia sobre os joelhos.

A sala estava fracamente illuminada.

— Estou descançando — explicou ella estremecendo ligeiramente.

O chronista, ainda de pé, a fitava attento. achava-a mais therea, mais diaphana, mais luminosa. Dir-se-ia uma camelia animada, a pulsar de espectativas amorosas, de ancias desconhecidas...

Sentando-se ao seu lado, proseguiu:

— Algum pensamento saboroso lhe prende a attenção... Notei-lhe o alheamento, a distracção, a sua

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