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da sua verdade — e com as mãos em as suas mãos, contra elle, assim permanecia... E se Theophilo fazia menção de falar, de agarral-a, de estreital-a, dizia-lhe:

— Espera, eu te peço... E´ na immobilidade, no silencio, que te sinto em mim mesma, que vou além de ti. — E ella parecia beber extases suprêmos.

Ladice amava seu amante sem cuidados, sem receios, sem preoccupações. Conhecia o seu valor, a sua graça, a dominação de sua belleza e de sua intelligencia, sabia-se rainha do universo e do coração do Poeta...

Trilhava o momento mais vertiginoso da vida da mulher; momento esso em que se não passa um facto, uma acção, um acontecimento, uma mudança, que ella não pese, não apalpe, não entre, não inspeccione, não anime, não logre; é em esse momento em que ella agarra com as mãos nervosas e irritadas as horas, os annos, o tempo, que lhe roubam aos poucos, a illusão de eternidade; em que ella sente descer sobre seu corpo, qual aguaceiro forte, o deslumbramento pela vida, e a sensação terrivel da fragilidade de seu ser e da tenue duração de sua mocidade... E´ com a consciencia e com o pensamento vigilantes que ella atravessa esse periodo fugaz, esse meio curto, pequeno, rapido, exiguo, alucinante...

Vós outros homens desconheceis a grandeza, a plenitude, a energia, a capacidade illimitada de forças que fervem em o coração feminino, quando elle está em o auge do verdor. Mede-se com os elementos, com a