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natureza, com os espaços. — E´ a videira viva, ardega, prolifera, uberrima, que se alarga, se multiplica, apoia os seua sarmentos, os seus rebentos, sobre todas as paliçadas, todas as sebes da terra immensa!... E Ladice derramava a frouxo essa abundancia de fulgores, de impressões que lhe picavam o senso, que lhe serpeavam em torno do corpo e da imaginação.

Theophilo soffria d´essa sua eclosão maravilhosa; apesar de possuir em o amor a tensão excessiva, rude, ingente, das tentativas ultimas, dos esforços maximos, tinha a certeza de que a sua juventude desmaiava, empallidecia, passava, perdia o brilho, a claridade, as irradiações de um meio dia tropical...

Com a alma torcida de angustia e de desespero, quando Ladice lhe apertava a cabeça febril, elle disse-lhe, certa tarde:

— Ao envez de encontrar em esta paixão immensa, o contentamento perfeito, a calma vertiginosa, só descubro tristeza profunda, afflictiva, cuidados torturates... Amo-te de um amôr infrene, continuo, certo, egoista, como se me fora obrigação ingenita... Quizera-te minha, inteira minha, um objecto, uma cousa que agarrasse, que dobrasse, que guardasse em minhas mãos, em meus bolsos, em meu peito, occulto, longe de olhos estranhos, de cobiça alheia... Mas não; fazes parte da natureza, és luz que offusca e que attrahe, és a essencia forte que tonteia e que tenta a humanidade, és a mulher ardente que ama por amôr do amôr... E a sua cabeça pendia abatida, sombria...