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— Blasphemas... Amo-te por ti mesmo... amo teu perfil que morre em o meu, as tuas ideias, os teus cabellos negros que sombream o pallôr de lua matutina da tua face; a ironia que te dansa ao redor dos labios humidos e roscos.

E os seus dedos lindos e quentes desciam pelo rosto do amante, cheios de sopros seus.

— Não — com gesto impaciente — o amor universal nasceu em as tuas cellulas... A minha pessôa não fez senão agital-o para a vida, incital-o, e elle germinou rubido, tenaz, audacioso, esplendido. Segurando a fronte com ambas as mãos: — saber que não poderei seguir, acompanhar essa tua ascensão radiosa, fruir até ao fim a tua ebriez acre, violenta, findar-me juntamente comtigo... Outros virão mais jovens que eu... Ellès trarão por isso, em a sua tenra idade, a tempestade caprichosa de paixões insatisfeitas, a força imperiosa da curiosidade, a pressa convulsiva, emocionante pela surpresa... Serás a sua amante, o seu madrigal, a musica de suas insomnias, a raiva de seus desejos.—E elle a apertava em os braços como se quizesse diluil-a em si... Ella offegante, risonha, feliz de saber-se amada até á loucura, respondia-lhe, orgulhosa :

— Trago em os plasmas, o fremito universal, mas tu és-lhe a essencia vital, a gleba feraz, o raio de sol, o oxygenio, a amplidão, onde elle implantou as suas raizes, se fortificou, medrou, se dilatou... E quando não existires mais, elle fenecerá, se engelhará,