Theophilo, apesar de artista e poeta, não é um bohemio; pelo contrario, ás vezes, passava dias consecutivos em casa, a escrever e a estudar...
— Quanta qualidade num só mortal — ajuntou ella, toda ouvidos.
— O seu espirito se expandia nesse meio de intellectuaes e, insensivelmente, foi-se esquecendo da noiva, que deixára em uma provincia. Afinal, escreveu ao pai, rogando-lhe desfizesse esse contrato; mas o velho, que era tenaz e rijo, recusou-se formalmente e, em palavras violentas, appellou-lhe para os principios nobres, obrigando-o a casar-se dentro de muito pouco tempo.
— E ella? — inquiriu Ladice, triste.
— Ama-o loucamente, tem sido de uma constancia feroz, tem recusado muitos noivos...
— Se fosse eu, dar-lhe-ia a liberdade, embora morresse — respondeu ella, exaltada.
— Mas tu és differente, és uma mulherzinha de nervos sublimes...
— Dize-me mais desse poeta; João, conta-me de seus gestos, de seu geito... Os seus cabellos devem ser bronzeos.
— Não, são negros.
— Os seus olhos, languidos e parados...
— De um castanho febril.
— A boca rubra; baixo.
— Rosea; alto.
— Adora as flores, não é mesmo? com certeza, dorme sobre violetas, rosas despetaladas, fechado em perfumes, como eu...