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“bentos, em a paixão das seivas, dos pollens, em a
“calidez das folhas, em a lascivia das sombras, dos
“frutos, apoderou-se de mim e eu te possui, meu
“Thệo, sob a radiosidade queimante, langorosa, di-
“vina d´esta manhã... Os meus elementos organicos
“e nervosos guardam as tuas impressões, a tua ma-
“neira estranha de amor, a tua emoção selvagem...

“O verão, tu, meu amigo, o nosso amôr e esse re-
“fugio entalado nas montanhas qual rosa de Abril,
“Petropolis, é para mim mais forte que a existencia;
“é o triumpho completo do amôr pela morte...

Ladice.”

“Thêo.

“Sonhei comtigo. — Vi-te morto e coberto pelo
“meu amôr. Sobre o teu corpo estirado, flammas
“pequenas surdiam temerosas, succediam-se, agglome-
“ravam-se, apertavam-se, accesas, chammejantes, ter-
“riveis, ameaçadoras... Já não eram mais labaredas,
“linguas de fogo, minusculas... Era um incendio que
“lavrava, que se propagava, que se ateava á tua pes-
“soa... De todos os cantos, monotonamente, como
“uma ladainha, vozes diziam: “E´ o teu amôr!” E
“mil dedos me apontavam...

“E´ um sonho, um symbolo, e nada mais...

Ladice.”

“Thêo.

“O futuro, o futuro... E´ a dominação de teu
“ser sobre o meu...

Ladice.”

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