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turas, a effervescencia, o raio vivificante de ambos...

João, pesaroso, principiou de recordar-se de certos factos de outr´ora, da viagem que emprehenderam juntos ao mar de Azoff; da elegia que Theophilo recitara em deixando atrás de si como um sonho langoroso, a ilha de Mytilene; da reverencia majestosa que o Poeta fizera ao Astro-Rei, em pisando a cidade santa, adeante de mussulmanos espantados, da oração profana que elle endereçara a uma grega de nariz rectilineo e olhos afogueados... Os dois riam, e tornavam-se sobrios, presos da triste volupia do que foi.

Depois de um curto silencio:

— Não me posso explicar a tua demora d´esta vez aqui no Rio... D´antes ficavas apenas uma semana... — indagou-lhe.

— Saudades de meu paiz... O estrangeiro afinal acaba fatigando... Actualmente, o Rio está habitavel. Ha espaço, ar, hygiene... De resto estou trabalhando, escrevendo...

— Não cessas de estudar... Como te invejo! — disse o senhor Dalmada de todo saneado das supposições malsinadas. E´s um privilegiado; gosas por todas as faculdades, por todas as percepções... Gosas continuamente...

Theophilo suspirou ao lembrar-se de Ladice... Que lhe valia tudo aquillo, mesmo a gloria, se ella não era toda sua, só sua?

— Sim, goso; mas soffro muito, oh! horrivelmente...