Página:Exaltação (1916).pdf/245

Wikisource, a biblioteca livre
— 237 —

E a sua mão, procurava as angelicas que lhe jaziam em o bolso, apertando-as com frenesi...

— E´ porque sempre anceias?... Tens uma alma muito ambiciosa... Queres as alturas; aspiras a ser a propria luz...

Theophilo não respondeu. Elle desejava isso mesmo e mais ainda: — Quebrar o passado, recuar os annos, aniquilar o que foi, voltar á aurora de sua vida, torcer o destino, forjar com ousadia, com affouteza, com energia a sua felicidade, morrer esvaido em o deslumbramento de seu amôr. O seu coração agoniado, rendia-se ante essa impotencia, ante esse obstaculo insuperavel, invencivel, contra o qual, se chocavam indefessas, bravias, feras, todas as revoltas, todas as raivas, toda a insania de sua vontade...

A sua feição tristonha, a infelicidade que resumbrava de sua pessôa, de suas palavras, eram para o Senhor Dalmada, motivos de alegria: os nervos da face se lhe relaxavam e elle sorria satisfeito...

— Vem, disse-lhe Theophilo, erguendo-se. Verás que não perco o meu tempo, aqui no Rio, que, apesar de passear, hei cumprido o dever que a mim me impuz.

Seguindo-o, João reparava que elle era sempre o mesmo: exquisito, irregular no gesto e nas acções, mudavel, cheio de contrastes flagrantes, só tendo uma unica immobilidade, uma unica fixidez — a paixão pelos livros.

A saleta estava escura. Theophilo abriu uma janella, e veio para a mesa onde se achavam amontoados os seus manuscriptos... Mas, ao approximar-se, notou que mãos estranhas haviam passado por alli. Aquella