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estatua fóra do lugar sobre a pasta onde escrevia... E seus olhos deram com o nome de Ladice escripto em letras enormes... Profundamente abalado, afflictissimo, perplexo, sem saber o que fazer, dobrou afinal a folha de papel, amarrotou-a, fechou-a dentro da mão, continuou a mexer em os livros, como se nada houvesse acontecido; não ousando, todavia, levantar os olhos para João, de pé, parado, silencioso...

N´essa attitude de embaraço e de alvoroço, poz-se â lêr, apressado, as primeiras paginas de seu novo Poema...

O Senhor Dalmada ao seu lado já havia lido e relido aquelle nome e mais as palavras, “Meu Thêo”... Aturdido, amparando-se contra a mesa, sentia rugir, bradar-lhe em o peito os tormentos, o desespero, a rebellião dos embahidos, dos ludribiados...

Elle não prestava a minima attenção ao que Theophilo lhe lia em voz alta. Aquellas palavras se lhe entranhavam em o cerebro, em o coração, em as pulsações; rasgavam-lhe a bondade, a clemencia, a tolerancia; espalhavam-lhe em o sangue o germen assolador, implacavel da vingança, da colera... Elle não cessava de repetir em o intimo: “Oh! dissimulação! oh! hypocrisia feminina! Hei de dizer-lhe que lhe descobri o segredo, a impureza... Oh! amante febril que vem procurar o seu amante!...”— Assim elle permaneceu algum tempo.

Ao sentir-se mais calmo, João, lentamente, sem olhar o companheiro, disse-lhe.

— E´ tarde... Vou-me indo... Tenho um com-