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esbraseadas, de chagas, de rodas de fogo, feriam o espaco, com denodo, resolutos, altivos, extacticos.

Ladice entregava-se inteira á poesia calma, subtil, estontrante, d´essa manhã. Pelo seu corpo esguio passavam, alternativamente, brisas calidas, frescas, cheias de sal, de sombras, fragrantes, ardentes, que lhe traziam restos de fremito, de mysterio, de pujança d´essa mata vizinha que se apresentava á sua retina cono sendo o transumpto, a synthese da vida universal... Parecia lhe ver mãos invisiveis tecerem e destecerem existencia, engendrar em relentos, cercearem vergonteas, germinarem semenies, secarem arbustos... Era una luta eficaz, lenta, silenciosa, era um esforço insito manso. Um combate fatal, certo de creação e de destruição! “A vida é um instante; a morte, sim, é eterna, eterna...— dizia Ladice a si mesmo, sentindo surdir-lhe em o coração com o clamor das tempestades, das aguas em movimento, o grande desejo de ver Theophilo, de pertencer-lhe para sempre...

Ella ficou por momentos refugiada em si, empegada em o seu pensamento. O sol adherente, carinhoso, cobria-lhe os pés á semelhança de coma loira de gentil nereida; as borboletas volteavam-lhe em torno da cabeça sombria; o encantamento da natureza a chamava, a seduzia, a possuia, a tornava sua ideia, sua alma, seu principio activo.

Ladice lobrigava em o arvoredo ainda adolescente, impaciencias, energias, forças retidas, impetos de crescer, de medrar, de dominar, de exceder aos outros, de se fartar de claridade, de ar, de amplidão, de alturas... E ella pensava: “E´ o mesmo ardor ju-