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venil, é o mesmo bulicio do viço, da vida, é a ambição admiravel, é a transformação milagrosa, soberba, é o symbolo sensivel de toda a humanidade!... E as suas pulsações eram dominadas, acceleradas, suffocadas pelo rythmo ardoroso, incisivo que desferia essa anarchia muda, essa desordem verde de ramas, de cipós, de arvores, de sarmentos, de eles, de frondes emmaranhadas, enredadas, confusas, a se prenderem, a se premerem. a se empurrarem, a se fundirem, fazendo uma só unidade, uma só massa, fraternizando-se obrigadamene, glorificando, celebrizando o triumpho espontaneo, ingente, maravilhoso do amor.

Deslumbrada, adelgaçada de emoção, exclamava, extendendo os braços para a frente: “Meu Deus; porque me deste o ser!” — A excessividade de sua violencia a fazia soffrer. Deante de seus olhos fixos, as flores, os frutos, as folhas tombavam mollemente, á feição de corpos que se dão, de vagas que se estiram... Elles voltavam para a terra faminta, para a mãe obstinada, egoista, implacavel que os formara e que agora os desejava, os reclamava para outras cellulas, para outros sêres... Instinctivamente sobre essa mesma terra sequiosa e assimiladora, as mãos alvas e finas da Senhora de Assis deixavam-se cair, dolentes, furtivas, vertiginosas — lirios vivos, rosas de amor, conchas de nacar, ex-votos do coração humano á inexorabilidade terrena: “Terra insensivel, quando eu for dormir em o teu seio — dizia Ladice á meia voz, segurando um punhado de areia—por piedade, não profanes o setim, as gazes que me envolverão o corpo luminoso... Redobra o teu furor