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n´esse dia; colhe todos os cravos do universo inteiro, faze com elles o meu leito funerario... Quero repoisar sob o seu peso, sob a sua pressão, calcada, asphyxiada em esse ambiente delirante... Quero ser o fruto novo, a flamma de tuas entranhas... — E depois de uma pequena pausa — oh! se o poeta do amor, a Swinburne vivesse!... Eis outro plectro que me saberia cantar... Que orgulho não teria a posteridade, lendo um poema tecido com o meu perfil antigo, sonoroso, de minhas sensações ineditas, extrêmas, de minha volupia, de minha dôr extensiva, do extase de minha boca... Elles viriam pallidos, reverentes e tristes, esparzir papoulas, escabiosas, jasmins sobre esse corpo apaixonado, magnifico, como as auroras, como os horizontes encandescidos, impressionador como lagos solitarios onde cyprestes vigiam e chorões se curvam... — E dentro de seus olhos agglomeravam-se pesares, melancolias...

João se approximava, avançava a passos vagarosos, alheio á belleza da manhã e á do lugar. Apenas ouvia a voz de sua prima misturada com os sons, com o ruido dos mil insectos invisiveis que se abritavam em a ramaria. Parando, elle murmurou, ella recita. e proseguiu o seu caminho.

A Senhora de Assis logo que vio, foi-lhe ao encontro, dar-lhe as boas vindas.

— Vens a mim como Atalanta: ridente, rosea divina, fresca... — edindo-a de alto a baixo — talvez alguma Artemis poderosa labore o teu destino segundo