João exasperou-se do seu modo zombeteiro e exclamou:
— Por que motejas? Dize-me, serias capaz de passar pela vida indifferente ás suas tentações, nos olhares, á admiração, á ardencia dos homens? Entregarias á morte um corpo immaculado, virgem de sensações impuras, serias capaz? — Ladice não replicou, sómente seus dedos empallidecidos se apertavam cada vez mais. — Oh! não me ousas responder. Tens consciencia de que não és ais a Ladice que conheci, e cujo coração eu outr´ora segurava em as mãos como se fora um fruto, através do qual, eu via todos os sentimentos, todos os segredos pudicos... Enquanto hoje tens amores prohibidos. E seus olhos se fixavam em o rosto de Ladice, satanicos, victoriosos, selvagens...
— Em que razões, em que provas tu te estribas? perguntou-lhe a Senhora de Assis, indignada.
— Ainda hontem, estiveste em casa de Theophilo... E lá deixaste angelicas e uma carta escripta em papel almaço... — João a enfrentava resoluto, os labios cerrados.
Ladice sentiu dentro de si o movimento subito que o animal toma para dar o bote, e, fremindo de colera, pronunciou a custo:
— E que tens tu com isso? A minha pessôa é livre...
— Pertences ao teu marido e á sociedade...
— Repito-te que sou livre... Se estou com Francisco é porque eu quero...
— Seria mais digno que o abandonasses...
— Se o não faço é por piedade...