Página:Exaltação (1916).pdf/253

Wikisource, a biblioteca livre
— 245 —

— Se elle souber, matar-te-á...

— Qu´importa... Será o meu triumpho...— Pela sua physionomia passavam raios de jubilo em antegoso d´esse delirio de sacrificio pessoal.

João em seu intimo invejava-lhe o arrojo d´esse amor fatal...

— Oh! a vileza de Theophilo... Conta-me os ardis que empregou para te seduzir. — E premia as fontes em um gesto de desespero.

— Elle não teve essa necessidade: amavamos-nos; fomos um para o outro; eramos duas almas semelhantes que nos buscavamos e finalmente nos encontramos: saibas tu que quando a mulher não quer, quando a sua vontade se oppõe, ella é invulneravel...

— Mas, dize-me, como ousaste transgredir os principios sãos de tua educação, onde pairam a tua virtude, a tua religião, a tua honra, a tua lealdade? — João fatigado, sentou-se.

Ladice vibrando de ponta a ponta, tocando-lhe de leve em o hombro:

— Desconheces a violencia da paixão? O que são virtude, honra, marido, sociedade, lealdade, ante este sentimento tão poderoso, tão louco, tão avassallante que os proprios moralistas e physiologistas a attribuem antes ao sôpro do genio da especie do que ao desejo do proprio individuo... Chamfort diz que os amantes em este caso são um do outro pela natureza, que elles se pertencem de direito divino, apesar das leis e das convenções humanas... Perante a sciencia, quem ama é um irresponsavel...

— Sim, mas para uma alma de escol como a tua,