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mundo seria outro!— E os seus olhares se perdiam nos tons fuscos da tarde que desapparecia.

— A moral em boca feminina deve merecer acatamento, respeito; é sagrada como a religião.

— A moral — Ladice sorriu, é a veste fornecida por cada seculo para cobrir as convenções humanas então em moda... Ella varia como o tempo, como qualquer mulher hysterica.

— Mas, Ladice, de onde tiraste estes conceitos? Falas como uma revolucionaria.

E as suas sobrancelhas se contrahiram.

— Fui buscal-os em a minha intelligencia, em a observação, em o soffrimento, em os actos dos proprios homens...

— São os effeitos da educação viril que recebeste... E´ um mal terrivel, este modernismo, esta mania tola, de instruir-se a mulher, como se fora um rapaz...

— Desejavas então que eu fosse ignorante, e que apenas soubesse lêr e escrever?

— Garanto-te que serias muito mais feliz... Perderias esse romantismo que te enferma — replicou elle, sem segunda tenção.

Ladice saiu da varanda sem responderUma tristeza profunda, um raneor surdo contra o destino lhe contrahiam o coração, a alma. Ella sentia instirar-lhe o senso até ao desespero, essa grande humilhação destruidora para uma mulher superior, a convicção decisiva da inferioridade de seu marido. As muralhas, os fossos, as distancias espirituaes que os separavam, pareciam ampliar-se, multiplicar-se, alargar--