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— Puro engano; ella é eivada de vicios tremendos...

— Tambem a sociedade o é, sob a capa da hypocrisia, e dos gestos graves — replicou Ladice.

— Mas a sociedade respeita as apparencias...

— Então, praticar-se o mal, ás escondidas, sem testemunhas, é ser-se bom, virtuoso? Ah que sacrilegio! — exclamou ella.

— Exaggeras... mas que fazer se a sociedade e a vida reclamam isso?

— A sociedade sim; mas a vida, não... A vida Francisco, surge espontaneamente da verdade. E´ o homem; devido ao seu egoismo que a deturpa, que a desvia, que a pisa constantemente. Os preconceitos são odiosos; hão de forçosamente cair... Sinto já em mim o grito de revolta. Os que virão amanhã triumpharão...— As narinas de Ladice fremiam emocionadas.

— Que salto gigantesco deste: do monarchismo ao nihilismo... Tremo até — retorquiu elle, achando muita graça nas suas theorias e no rigor com que ella as defendia.

Francisco se rejubilava e percebia n´essas phrases, sinceridade, nobreza, elevação. Avclumava-se-lhe a certeza de que Ladice seria incapaz de uma acção menos digna. A confiança em sua mulher se dilatava. se estratificava.

— Não quero destruir crenças — disse ella — apenas abolir costumes arraigados na ignorancia e acobertados pela moral. Oh! se todos descessem até a luz suprêma até a essencia das cousas... Como o