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— E´... Os poetas deliram — respondeu ella abstracta.

— E´ uma bella maneira de se mentir... Elles são de ordinario os exornadores das vulgaridades, do vicio, da fealdade, das baixezas humanas...

— Elles têm uma missão heroica, sublime, quasi divina; transformar pantanos, charcos eu terra firme, e frutos de oiro... Mas esqueces-te de que elles tambem são os eternizadores, os estimulos efficazes da virtude, da gloria, dos fastos eminentes, da graça, da belleza. Oh! os poetas! — accrescentou ella andando de um lado para o outro — São o verbo, a palpitação, os nervos, o coração physico da Perfeição, do Encantamento, da Magnificencia do Universo...

— O mais das vezes, são almas corruptas, com expressões brilhantes — atalhou elle em um tom levemente amargo.

— O verdadeiro poeta sempre tem a alma grande e nobre... Immensa como o ether — retorquiu Ladice vivamente.

— Ah, sim; ha excepções... Theophilo, por exemplo, é uma alma de elite, é um artista, um estheta finissimo, é um homem de caracter. Sómente um pouco singular no modo de ser; mas a sua estravagancia é requintada, não é um bohemio... Detesto a bohemia — accrescentou elle, accendendo um cigarro.

— Porque esse rigor, Francisco? Ella representa a parte candente, alacre, despreoccupada, cheia de sol, da vida... Ella se precipita em a morte, acurvada sobre o riso... Escarnece, mas não maldiz.

A. B. —17