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em a varanda, lendo um romance inglez. Brincando com as flores que ella trazia em a cintura, disse-lhe:

— As flôres medram n´este solo com a excessividade de herva damninha... Quem sabe, Ladice, si preferias residir aqui. Adoras a natureza...

— Absolutamente, não; gosto do fragor das grandes capitres, do movimento, das divergencias, das discussões que se debatem em os centros intellectuaes...

—Já percebi:—O que tu gostas é da variedade... Ao cabo de certo tempo, as cousas te fatigam, tornam-se monotonas, não é mesmo?

— Excepto o meu amor, excepto Theophilo — ia ella dizer, mas conteve-se.— Tens razão; ha pessoas que nunca sabem o que desejam, ou, por outra, procuram sempre o desconhecido, e quando o encontram, saboream-n´o, e depois abandonam-n´o.

— Isso é poesia, é romantismo. — E elle deu uma gargalhada. — Que analogia o teu modo de ser com o do poeta.

— A que poeta te referes?

— A Theophilo de Almeida, por certo. Hoje conversamos longamente, e elle é como tu, estravagante, original, um sonhador... Encontrei-o em a Praça D. Affonso, lendo a um amigo, um poema admiravel, mas por demais exaltado. O amôr, afinal, não tem aquellas explosões...

Ladice ao ouvir o nome de seu amante empallideceu. Curvou-se sobre o balaustre e poz-se a arranjar os galhos da roseira, que pendiam. Ella o sabia; aquelle poema descrevia-lhe as linhas formosas e esbeltas do corpo.