Página:Exaltação (1916).pdf/268

Wikisource, a biblioteca livre
— 260 —

feroz que empresta as visceras aos musculos, aos tecidos, o desejo fatidico de se descoserem, de se romperem, de deixarem a nú, um coração a palpitar sobre outro coração, o sangue a gotejar sobre outro sangue... Era a loucura rubra do amor de almas doentias, que os agitava.

Elles estavam um ao lado do outro, olhos nos olhos, mãos nas mãos:

— Ha em mim uma sombra, que nunca poderás illuminar e que só clama a luz que provém de ti... Ah! Ladice, como eu soffro! Como eu soffro!... — exclamou Theophilo.

— Talvez seja tambem esse o meu mal... Eu te comprehendo... Chegamos á balisa da natureza humana, mas as nossas faculdades, as nossas percepções teem a sensação do além... Somos transidos pela necessidade de transfusão completa... — E´ a avidez de todas ás volições; é o embate eterno do vento e do mar que entraram em nós... — E Ladice apertava entre as mãos o rosto de Theophilo. — Vês, olho-te e amo-te como uma inconsequente... Quizera diluir teus olhos em meus olhos, a tua boca em o meu labio sequioso de ti... Oh! esta tua cabeça, linda, classica, quizera trazel-a constantemente sob a minha retina, presa em mcus dentes, porque ella eria a minha radiosidade.

Theophilo recebia sobre o rosto a sombra ardente do perfil apaixonado de Ladice.

— “Ha dias, que eu quizera quebrar-te, machucar-te, torcer-te os membros, ver-te morta... — disse elle, á meia voz, pausadamente. — A tua belleza, o teu