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— Cheira-me as mãos, a pelle... Ellas ainda estão impreganadas do incenso, da myrrha do espicanordo que provinham do Oriente. — E Ladice chegou-lhe as mãos ás marinas, o braço roliço, fino, harmonioso de gravura bizantina.

— Vou ler-te um poema onde canto a tua belleza, o teu espirito, o meu amôr: ha fremitos de flamma, convulsões terriveis, angustias lascinantes. Rolas n´aquellas paginas como o genio do bem e do mal...

Theophilo levantou-se, abriu um armario envidraçado, e tirou de sobre uns livros, algumas folhas dobradas de papel.

— Estas rimas te pertencem. São a minha imaginação, o meu amôr, as minhas sensações, servos teus, glorificando-te... São a homenagem de um poeta á sacerdotisa suprêma da Graça e da Intelligencia.

Ladice recebeu-as como se ella recebesse o seu coração, a sua fluidez ou um presente esplendido da natureza, e levando-as aos labios, disse ao entregar-lh´as.

— Lê, quero ouvir pela tua propria voz essas estrophes onde a minha vida vive e as minhas linhas se gravam; serão a agua forte, physica e moral do meu ser... Ella ficou de pé ao seu lado, os braços para atrás, o perfil voltado para Theophilo, o pescoço nú, a golla abaixada.

A voz de seu amante tinha sonoridades, melodias, rythmos suaves, brandos, fortes, cheios, quentes, profundos; as suas palavras invadiam-lhe o intimo de eclosões maravilhosas, de efflorescencias raras, cresciam-lhe o orgulho, a dominação; granizavam-lhe