Página:Exaltação (1916).pdf/276

Wikisource, a biblioteca livre
— 268 —

— Então, não te verei hoje, á noite ? — inquiriu-lhe Ladice.

— Não, tu me não verás em tua casa...

— Tens razão. Não deves vir — ajuntou ella fracamente.

Theophilo levantou-lhe o véo e beijou-lhe a boca, os olhos, detidamente. Ladice, a cabeça meio pendida para atrás, conservava-se triste, triste, contra elle, como se fôra uma das sete dôres...

— Tu não vens, não é mesmo? Insistiu ella novamente, anciada para que elle fosse mais ousado, para que elle mudasse de resolução e exclamasse: "— Irei á tua casa, apesar de ti e de meu caracter!" mas, Theophilo disse-lhe:

— Não; ficarei com a tua lembrança e o teu soffrimento. — E a sua voz era uma caricia. — Esperarei a tua vinda amanhã com a fidelidade, a impaciencia bravia, e desespero, a afoiteza pruriente da Terra para com as sombras de todas as formas que se lhe amontoam em os flancos... Entendes?

— Até amanhã — suspirou ella, e ambos apertaram-se, rijamente.

Theophilo ficou largo tempo de pé na poita paralysado, atordoado. Toda a sua attenção, as suas faculdades, os seus pensamentos, se fixavam n´aquella silhueta esguia, de andar apressado, vestida do panno madeira. Dir-se-iam as tranças castanhas, doiradas do outomno a emmoldurar-lhe os membros formosos, a servir-lhe de caule, a cabeça magnifica, a essa flôr radiosa de Primavera, a essa rememoração fiel, exacta, soberba da belleza grega... E Theophilo inteiro se