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estadia em toda a sublimez da vida! Com certeza ainda desconheces esse sentimento... Amar Xavier, é vivermos encerrades dentro de lirios... E´ sentir-mos successivamente a morte de todas as volições, pensamentos e sentidos para a geração, a forttficação, o engrandecimento, a exaltação, a dominação absorvente de uma outra idéia, de uma outra vida que se enxerta em a nossa... E’ o triumphar de uma possibilidade exotica, a invasão de um ser estranho a se apoderar de uma consciencia que logo deixa de ser... Amar é trazermos preso as sensações, á guisa de soalhos, o furor, a violencia, o alarido de raios enfurecidos e o silencio illuminado, beatifico, febril, da immortalidade... Amar, Xavier, é assittirmos por toda a parte, onde quer que os nossos olhos batam ao renascimento de magnificencias multiplas, de plenitudes de riso, de alegria, de folias juvenis; é trazermos ao redor do corpo, o espasmo, a contracção eterna da immensidade que circumda affoita o universo como um nimbo glorificador; é sermos encadeados, acorrentados, completamente cobertos por uma vegetação densa, uberrima, tenaz, brutal, estonteante, rubra...

Theophilo parou um instante, a sua vehemencia o fatigava. Atravessavam agora a ponte mais formosa da cidade. O rio se extendia ao longo da rua, preguiçosamente, negligentemente como cabellos que se desenrolam, que se desfazem e param... Quasi se não percebia o movimento lento de suas aguas.

— Vés, Xavier? Tenho aqui o mais suggestivo dos symbolos. Este rio se entrega á terra inteiro, confiante, voluptuoso, qual amante ao seu amante, e