Página:Exaltação (1916).pdf/279

Wikisource, a biblioteca livre
— 271 —

do Mar Morto ao signal divino, e elle parou á espera do amigo que se approximava.

— Mestre, queira desculpar, o Snr. soffre? observo-o de longe, que tem? os seus movimentos são desordenados...

— Ah! Xavier, é um soffrimento atroz que quiz ser festivo por instantes... Mas, soffro, soffro como um desgraçado. — E ambos continuaram a andar, um ao lado do outro.

— O Dr. Xavier tinha para com Theophilo uma admiração extraordinaria, a par de grande amizade: tratava-o de Mestre, homenagem ao seu talento, á sua erudição. Elle não ousava, entretanto, interrogal-o, apesar de suppôr, adivinhar a causa; havia certo respeito de sua parte. Elle bem se recordava do passeio, a enseada de Botafogo e da silhueta esbelta de Ladice. O seu coração se confrangia penalizado, ante a dôr do Poeta celebrado, do homem que tinha a sua veneração e a do paiz.

— Será possivel que um homem que empunha a gloria, um favorito das Musas, soffra como um simples mortal?

— A gloria deve ter a sua parallela — o amôr, para que satisfaça plenamente... A gloria sózinha é a descida fugaz de una espadana divina em nós; é o movimento infecundo de asas colossaes a nos agitar; é o som seco, arido, estridente de metal, a tilintar em nós; é, afinal, um mergulho rapido, intenso, na vertigem...

Elle ficou algum tempo pensativo. Depois, com calor — Emquanto o amôr, rapaz, é a pausa, a

A. B.—I8