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Theophilo, e dizer ao Pceta: "Toma-me, tu me pussuirás eternamente, durante a dansa lenta, classica das Horas, e o silencio grave, imperturbavel solemne dos annos que se transmudam... Serei a gaze febril, flexivel, serpentina, gracil, que te envolverá... Acharás em o pallôr de minha pelle a forma de todos os beijos, a se eternizarem..."

Ladice se tornava mais estheta, mais artista. A sua subjectividade se exaggerava, se requintava, exteriorizava-se, misturava-se ao som, á claridade, ao arvoredo, á terra, ao azul, ás montanhas, á florescencia, ao perfume, emprestando-lhes emoções, arrepios, ancias, vibração de consciencia... Essa multiplicação incessante de seu ser, essa exaltação perenne de sentimento e imaginação, essa estadia constante em o suprêmo das cousas existentes, essa vontade selvatica de pertencer exclusivamente a Theophilo, roubavam-lhe vida ao organismo. Parecia-lhe ás vezes que a curythmia de suas pulsações se interrompia.

O seu coração era o orgão que ella mais agudamente sentia; para sua phantasia elle deixava de ser une pompe foulante, segundo Claude Bernard, para tornar-se o desdobramento maravilhoso e fecundo de suas sensações... o sim physico de todas as tempestades de seu eu. Francisco que a sabia dona de um temperamento nervoso, excitavel não se affligia com esses symptomas hystericos. Ladice era tão moça para ter alguma lesão... E nessa noite, quando ella lhe disse comprimindo o seio:

— Ah, Francisco, que sensação singular. E´ como se tivesse pausas subitas no coração.