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era a conversação morta, automata, incolor, de desilludido ou de coração beatissimo, constantemente engolphado em contemplações divinas. Mas os seus gestos, a sua cabelleira irrequieta e viva, os seus olhos por vezes meio fechados, a sua boca, os seus contornos trahiam a morbidez, o fulgor, que Eros empresta nos amôres renitentes e immortaes.

O seu sangue se alimentava com todos os venenos do bem e do mal.

Ladice sentia sobre si a excessividade do Universo.

Ella não era mais ella; era a paciente de uma força estranha, absoluta, terrivel, immensa; era a veiga tranquilla, o desfiladeiro estreito onde todas as tormentas entraram bramantes...

A seguinte definição descoberta em um livro de Nietzsche calou-lhe até aos penetraes do senso como um obuz, em flammas: “a verdadeira moral é a certeza instinctiva na acção”. D´ahi Ladice deprehendeu com tristeza e alegria que a sua vida passada que considerava um sacrificio, um acto superior de abnegação christã, era simplesmente a concatenação de mentiras e hypocrisias, a apparencia falsa de uma virtude que não existia. Fora vivida contra a sua vontade, as suas tendencias e inclinações, forçada pelas circumstancias, pela falta da insurreição de um amôr alucinante ao seu alcance, inteiro seu e doidamente correspondido... O seu desvario por Theophilo augmentava...

Ella queria agora mais do que nunca ser a esposa lyrica da Luz...

Ella queria irromper como o Impeto pela casa de