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que se contrahia e se estirava, livido de paixão, esse pézinho que tinha o signal de seus dentes, as marcas de seus beijos, as eclosões de sua raiva amorosa... Quanta vez elle não reteve em as mãos, esse pézinho delicado, macio, fragil, como nuvem de aurora, esse pézinho que trazia esculpido de um lado um crescente doirado de sol, um balanço subtil onde Amores se baloiçam... Curva mnaravilhosa de golpho, onde o seu esto, a sua vezania, a sua inconsequencia se abrigavam...

E elle vestia em imaginação, esse pézinho, não de pelle de viboras como os da rainha Mestris, mas da agonia violeta de sua volupia e do abrasamento magnifico de seu silencio...

Theophilo não ousou entrar. A vista d´aquelle pézinho, lhe atravessava o coração, os tecidos, as visceras, como punhaes frios envenenados.

Essa noite, elle a passou compondo rimas loucas,

O grande soffrimento de Ladice lhe abalava a saude.

Ella se não conformava com essa separação quotidiana de Theophilo; cada vez que o deixava, a sua tortura crescia, multiplicava-se immonsuravelmente. A´ noite em companhia de seu marido mal dissimulava o tedio, a impaciencia esperta que lhe lavravam em o intimo. Havia instantes. em que ella desejava empurrar os minutos para que elles se fossem de roldão morrer em a eternidade. A sua conversa com Francisco era vazia de enthusiasmo, de calor, de brilho; não lhe levava fremito algum; não havia, por assim dizer, ligação entre o seu espirito e a sua phrase