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um audacioso — accrescentou Theophilo notando que já se achava mui proximo da casa de Ladice.

—Adeus, rapaz; deixo-te aqui, attende as palavras quem conhece a humanidade e o seu soffrer.

— Sinto que energias novas se me despertam... O Snr. é um privilegiado... Que banho de luz, que claridade é essa que entra em mim! Mestre, peço permisão para vel-o sempre...

— Todas as manhãs e todas as noites estou ás tuas ordens. Os dias passo-os trabalhando. Adeus, Xavier.

Os dous amigos se separaram.

O Dr. Isaac Xavier em caminho para uma elegante Pensão onde se jogava o pocker todas as noites, perdia-se em conjecturas inexplicaveis sobre esse homem que apesar de theorias e forças atrevidas e poderosas, parecendo mesmo commandar aos proprios planetas, encontrava-se dolorosamente manietado pela magoa. Por que soffria elle? Que mulher se negaria ao seu desejo? Para um ser superior como elle todas as difficuldades se alhanam, todos os caminhos se abrem floridos, todos os successos teem talares...

Theophilo muito emocionado parou hesitante junto ao gradil de ferro da casa de Ladice. A porta da sala estava meio aberta; havia muita luz; através da trepadeira elle conseguiu distinguir uma ponta de sofá e um pézinho lindo enfiado em sandalia rosea; pareceu-lhe ouvir a voz de alguem que lia alto; Theophilo, porém, não despegava os olhos d´aquelle pézinho que tinha a languidez de flôr que pende. Oh! como elle adorava esse pézinho unico, ardente,