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qu´importa de resto, e fores amado, galga todos os empecilhos, empenha todos os teus afans poderosos contra os obstaculos que topares; afasta de ti os escolhos, quebra os laços, os entraves, as correntes que se te apresentarem; sê forte, ousado, faze com que a tua vontade triumphe, seja victoriosa; desafia a humanidade, subjuga o inimigo, foge com a tua presa e depois ri, Xavier, ri, gargalha do damno que fizeste. Qu´importa que o trilho seja de fogo, se o cimo é azul e ouro, se rosas florescem, se ha sol e rubores?...— Theophilo sentia acudir-lhe pelas cellulas a força, o trabalho, a vontade, a propulsão de vidas que se querem engendrar. — Ah! Xavier, surprehender-se o destino, provocal-o, vencel-o, tel-o sob si, como despojo opimo da existencia... é gosar-se a mais épica, a mais tragica das sensações... é como se torcessemos raios e os atira semos aos pés...

— Mas, Mestre, são só os poetas que amam assim, com essa vehemencia dominadora. E´ uma morbidez inherente unicamente aos senhores, nós outros, os vulgares, somos mais timidos.

E o Dr. Xavier sentia-se mesquinho, limitado, compassado, fraco, ante essas potencias que agitavam a alma do outro.

— Na tua idade, Xavier, ha vigores, robustez para arrasarem-se mundos, se desmoronarem citadellas, se rasgarem symbolos, se morder o coração das cousas mortas e vivas... ha no homem o calor, a fermentação, a effervescencia, a expansão de terra rica em germens, em sementes, em principios activos... Sê