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sagem forçada para quasi todas as pessoas; seus olhos erravam de homem em homem, em busca de Theophilo; Francisco um pouco atrás, conversava assumptos políticos com um novel deputado.

Meia hora se passára e Ladice já desanimava encontrar seu amante...

— Oh enamorada esteril, fomentadeira de nostalgias delirantes, vestal impura, sonho ardente intangivel, essencia lunatica do ardor, oh! minha Ladice, tu és como aquella lua cheia que está deante de nós... — Era Theophilo que lhe falava assim baixinho e que lhe apparecera sorrateiramente pelas costas.

A vitalidade, a alma maravilhosa de Ladice se agarravam a Theophilo, acurvavam-se sobre o seu perfil, debruado de mysticismo, de paixão, de transcendentalismo.

— Si te não visse, morria — balbuciou ella, o seu olhar a se immobilizar em os olhos de seu amante.

Era Domingo, dia em que elles se não podiam amar.

— Um presentimento forte me trouxe directamente a ti; si te não achasse iria á tua casa. — E essas palavras traziam a energia de sua decisão.

O colloquio era curto, mas incisivo, efficaz, cortante, qual sentença de propheta.

A cada instante seus olhos se volviam um para neutro, loucos, tenazes, como correntes fluvines que se querem desviar e não podem... Eram embates estridentes, impetuosos, acerrimos, vorazes... A musica, a magnificencia da lua, o enfreamento obrigado; a repressão total de seus tumultos, actuava n´elles como