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corrosivo, filtros maximos de incitação, caricias desordenadas.

— Théo, amo-te, amo-te... — E a voz de Ladice caia na escuridão como o fragmento luminoso de uma estrella.

Theophilo com os olhos fitos no rosto de sua amante pensava:

— Mulher lyrica e selvagem, eu te proclamo Rainha das Sensações; recebe a homenagem da Terra e a minha... Para ti se extendem como supplicas, orações, incenso, fluidos amorosos, o beijo, a avidez, o estertor, o grito sem som, meu e dos estames, das corollas, dos corações separados, do rochedo solitario, da agua esquecida, do pollen abandonado, do verdor, da juventude, dos amôres opprimidos e libertos...—

E as suas mãos se tocaram, ambos empurrados um contra o outro por uma onda mais densa de gente que рassara.

— Ladice: toda uma juventude, toda uma imaginação de Poeta... — segredou-lhe Theophilo ao ouvido. Uma facha solta do cabello de sua amante roçou-lhe pelos labios, celere, nervosa, trepidante, qual lingua de fogo.

— Thêo, legenda estranha e mysteriosa, tens a minha genuflexão — e o corpo de Ladice recuou, gizando no ar uma mesura.

Esses dous amorosos, um ao lado do outro, saboreavam o prazer inedito, seductor, acre, estonteante, de um segredo a dous: laço, liame, correlativo, imponderaveis, mas ferozes, irrevogaveis, concludentes, terminantes como o abraço, o vacuo, o instante immoto