que foi burilada em flagrante.— E baixinho, continuando a andar — E´ a flôr do extase...
— Não, Thêo, é o meu gesto. Repara: — sou eu que arranquei o meu coração e t´o offereço escancarado, rubro, gotejante, a arder em a palma da mão. — Ladice para lhe dizer essas phrases se adeantara um pouco.
Os olhos de Theophilo se fecharam, sorvendo-a de ponta a ponta.
Elles chegaram a uma ponte. Ao atravessal-a Theophilo inclinou-se sobre o balaustre, e disse alto:
— Ah! que a agua me fascina... Quando morrer, quero que me enterrem sob um regato... Como saberei dormir embalado n´esse murmurio eterno: Será a voz da minha amada a segredar-me amôr, surdinas alucinantes, estribilhos languidos... Como me será bemdita, então essa sepultura humida e fria !
Essas palavras invadiram Ladice de sombras mortas.
— Si te não soubesse poeta adivinhal-o-ia por esse dito teu... Vocês são sempre differentes de nós — atalhou Francisco. — Aposto eu, como Ladice tambem tem pretenções extraordinarias. E tu Ladice?
— Peço que me enterrem sob um carvalho, quero que as suas raizes me envolvam o corpo, sejam para mim os braços avidos, da natureza enamorada; que ellas me perfurem o coração, os tendões, á guisa de uma volupia mortal: mesmo morta quero ser trespassada por violencias. — Em enunciando o seu pensa-