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mento, Ladice se referia a Theophilo, ao amôr inveterado que os ligava; ella inteira fremia.

Parecia a Theophilo que a figura encantadora de sua amante se recamava de phosphorescencias, de luminosidades, de ardentias: ella era bem a filha do Ardor..

— Já suppunha mais ou menos essa estravagancia — respondeu Francisco; mas com certeza o nosso deputado tem o seu ultimo desejo igual ao men um pedaço qualquer de terra, encimado por uma cruz, não é mesmo?

— Ah, Doutor, sempre é preferivel descançar-se ao lado dos seus em um canto de cemiterio — observou esta, lembrando-se da cidadezinha longinqua onde nascera.

Emquanto os dous dialogavam, Ladice passara ás mãos de Theophilo, escondido, algumas violetas que trazia ao corpete, dizendo-lhe:

— “Recebe a minha radiosidade.”

O Poeta delirava; por um instante elle foi tomado dos máos instinctos, da perversidade, da ignominia, das ferezas de assassino vulgar: eliminar aquelles dous, arremessal-os ao rio, victima e testemunha, roubar Ladice, fugir para o estrangeiro... Afastou-se lasso, frouxo, quebrantado e lentamente ganhou após os outros a calçada fronteira.

Olhando-o, a Senhora de Assis percebeu que o vate era preso de forte emoção.

Elles enfrentavam agora a igreja em ruinas. Theophilo e Ladice pararam ante a virgem de mãos extendidas, a cujos pés uma vela se queimava.