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— Mater admirabilis, tende piedade de mim, dai-me ao meu Amôr — suspirou a Senhora de Assis.

— Virgem feliz, dizei-me sim... quedarei sempre deante de vós, qual lampada accesa de fé, de devoção, de santos fervores... Serei a tuba viva a proclamar aos povos a veracidade do milagre — formulou Theophilo em a profundez de seu coração.

— Estas muralhas negras me lembram uma gravura de Jerusalem, — proferiu Ladice, esforçando-se por aclarar o ar sombrio, de seu amante.

— Realmente é um pedaço da Cidade Santa... Até se assemelha á dôr impedrada. — E voltando-se para os outros, continuou: — Vejam a tristeza d´estes fragmentos ennegrecidos, que parecem chorar em seu abandono, a ausencia de uma Figura Imperial... Elles trazem o luto de uma vontade extincta, o abatimento, a compostura da resignação... — Theophilo parou un instante — creio mesmo ouvir-lhes as lamurias, as queixas, as imprecações, o desespero, o pavor, a agonia de se saberem desintegrados, de perderem a todo instante pedaços de si mesmo, de assistirem conscientes a approximação vagarosa, mas fatal do exicio derradeiro... Oh! é o transumpto exacto da vida humana... — concluiu elle, em um tom amargo.

— São reminiscencias de uma fé imperial. Pretendiam construir uma cathedral — explicou Francisco ao companheiro.

— Como são lindas as flôres aqui! —exclamou a Senhora de Assis, detendo-se ante uma fileira de hor-