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recia-lhe que todo o ser se estirava, se offerecia a Theophilo, qual fruto esplendido que ha condensado em a polpa, as volições da terra, da natureza e que quer ser mordido, maltratado por dentes humanos, ratos de sol, avidez de antenas.

— Teem o frescor das cousas que nascem, de gleba, intacta, de infancias, de elaborações — replicou elle lentamente.

— Deixaram-me a impressão de quem sabe do amôr, das sensações, apenas os grandes contornos, as linhas geraes...— E ella sorriu.

A emoção do vate tirava-lhe o poder da palavra; seus olhos resvalavam, disfarçados pelas paginas do livro.

Ladice invadida de pensamentos loucos, levantou-se, abriu a janella e foi-se para a varanda. Theophilo do sofá via-lhe o perfil estreito e branco, ir e vir; e immobil, lá no céo, a encaral-o, a lua cheia; fixando-a elle recebeu a impressão da nudez e estremeceu.

Dez minutos mais tarde, quando já na calçada, elle se voltou para olhar mais uma vez a amante em pé no alto da escada, Ladice pallida, extendeu-lhe as mãos n´um gesto de quem se dá, dizendo-lhe: “Leva-me comtigo...”

* * *

No dia immediato Theophilo recebia em seu amôr a exaltação da Senhora de Assis: essa violencia espiritual, maravilhôsa, transcendente, extrêma dos sentimentos humanos; essa parte invisivel, vibratil, incorporea, magnifica, profunda de nossa sensibilidade...