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— Que os teus esplendores mo fazem mal... Esta fluidez diabolicamente seductora que se te enrosca pelo corpo como um veneno insaciavel é o triumpho de minhas dôres... — Fitando-a muito — Tu te vás; não é mesmo? Deixas-me em o senso, a semelhança de corymbos de fogo, o teu delirio... E entretanto Ladice, ao envez de um festim total, o meu coração se debate na mais atroz das miserias. — E a sua cabeça apertava-se contra o seio de sua Musa.

Ladice sorriu satisfeita.

O soffrer do Poeta aguilhoava-lhe a imaginação; pondo o hombro a nú, mostrando-lhe a curva ligeira e fina:

— Toma-me Thêo, desfolha-me como se fora a tua rosa. — Os labios do Poeta se atardavam sobre esse hombro, com a teimosia, a eternidade das cousas que se não mobilizam.

Sacudindo-lhe os braços continuou:

— Olha, Thêo, trago-te aqui as viboras esguias, rapidas, sinuosas, escorregadias dos desejos gregos, orientaes; acharás o desejo unico de Astarte; o desejo lascivo de Missuf; o desejo classico de Rhodopis; o desejo lyrico de Timandra, e o desejo vehemente de Ladice, sobrinha de Sappho...

— Cala-te, cala-te, por piedade que enlouqueço. — E atirando-se sobre o sofá, o Poeta soluçava, preso do mais terrivel e morbido dos amôres...

Havia ultimamente na Senhora de Assis, desdobramentos surprehendentes, renovações estranhas de um romantismo estravagante, original. Fremia, tilintava de prazer ao enviar a Theophilo phrases soltas