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que lhe estarreciam o senso como narcoticos destructivos, fortes.

“Thêo.

“A tarde roubou-te o ardimento dos olhos... morro... não posso mais.”

“Thêo.

“Onde estou? Procuro-me por toda a parte... Ah, fiquei-te em as mãos, deitada sobre as tuas veias...”

“Thêo.

“Estou só... mas tenho os teus braços ao redor da cintura: são os teus beijos em massa, estratificados que me cingem vertiginosos...”

“Thêo.

“O meu desejo fugiu, foi-se, está em ti... cubro-te, com a exaltação de meus cabellos que cheiram á madeira verde...”

“Thêo.

“Manda-me a tua cabeça esplendida. As minhas mãos, a minha boca, o meu amor clamam por ella furiosamente...”

Essas palavras unicas, exclusivas da Senhora de Assis, saciavam as fomes e as sedes, as singularidades imaginativas do vate, eram-lhe açoites de luz, vergastadas de esplendores, rajadas, fusis de auroras, de arrebatamentos...

Mas esses clarões, essas fendas de radiosidades, esses risos de natureza fogosa deixavam após si escuridões, pesares, accrescimos exaggerados, densos, lugubres: o desejo de possuil-a, toda sua, tornava-se incisivo, uma obsessão... Sobre a fronte do Poeta, desciam